Série Mulheres Árabes | # 31 Thuraya Hamad Al-Zaabi

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Thuraya Hamad Al-Zaabi foi a primeira mulher dos Emirados Árabes Unidos a competir nos Jogos Paralímpicos de Beijing (2008). Vítima de um derrame aos 29 anos de idade, ela ficou paralisada no lado esquerdo do corpo.

Após anos de reabilitação e treino, Al-Zaabi conquistou medalhas de ouro no dardo e no tiro nos Jogos Asiáticos de 2010, em Guangzhou, China. Falando sobre sua vida em um vídeo promocional, My Incredible Story, lançado pelo Comitê Organizador de Doha 2015, ela diz:

Foi minha situação física que me levou a assumir o para-atletismo. É muito difícil e requer um esforço maior, mas isso não deve nos impedir de montar esta onda e demonstrar que os para-atletas podem superar suas deficiências, notabilizar-se e levar o para-atletismo a um nível superior. Esporte para mim é esperança. Ele renovou meus músculos fracos e também me moveu de um estado de reclusão e depressão, para um estado de esperança, determinação e um sorriso perpétuo.

O foco da Thuraya é ensinar as gerações futuras a seguir seus sonhos atléticos. “Espero continuar com o treinamento esportivo. Com determinação e força de vontade, os Emirados Árabes Unidos podem conseguir mais objetivos esportivos. “


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 30 Layali Alawad

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* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita no Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui. (Fotos por: http://www.thomas-langens.de/)

Layali Alawad é uma jovem artista síria, formada em Técnicas Gráficas e Impressão pela faculdade de Belas Artes da Universidade de Damasco. Nascida em Aachen, na Alemanha, mudou-se com sua família para Damasco e, depois de alguns anos, voltou à Aachen, onde vive atualmente.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

LA – Enquanto o estúdio do artista é necessariamente um espaço no qual ele pode trabalhar e pensar, é também o seu próprio paraíso criativo. Para mim, meu estúdio é como um microcosmo próprio, aqui há outras regras, outras condições, outras prioridades.

As pessoas podem pensar que ele [o estúdio] é desorganizado ou mesmo confuso, mas eu vejo essa desorganização como um compromisso bastante dinâmico, gradual e progressivo: toda mudança significa desorganização do velho e organização do novo.

Assim, no meu pequeno estúdio de arte, um pequeno caos é a evidência da criatividade. Conta a história das lições aprendidas na exploração, da experiência adquirida e das emoções expressas.

CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

LA – No passado, como eu ainda estava vivendo na Síria meu estúdio de arte foi fixado no porão da minha casa. Para mim, esta era obviamente uma situação ideal, já que meu estúdio era também o lugar onde eu estava acostumado a receber meus amigos e ensinar aulas particulares de arte para as crianças.

Hoje, já que estou vivendo na Alemanha, meu estúdio funciona como uma sala de estar. Pode ser um estúdio menos espaçoso e confortável do que aquele que eu tinha na Síria, mas como agora sou capaz de experimentar uma sensação de segurança, privacidade e liberdade na minha arte, não posso pensar em alternativa melhor neste momento.

CH – Você ouve música em seu estúdio? Você trabalha melhor com alguma música tocando ou necessita de silêncio completo quando está em seu ápice criativo?

LA – Eu sempre ouço música enquanto trabalho. A música deixa minha mente livre de distrações e torna meu fluxo de trabalho muito mais suave. Acredito que a música se torna parte da minha obra de arte; isso me ajuda a expressar minhas emoções e traduzir meus sentimentos em linhas e cores mais fáceis. Pessoalmente, eu realmente prefiro música oriental.

CH – Quais são suas práticas artísticas e seu processo de trabalho? Você planeja?

LA – Basicamente eu sempre planejo e desenhe esboços pequenos em fases anteriores, mas assim que eu começo com o processo de pintura, eu acedo para um mundo novo. Eu esqueço tudo sobre meus esboços e meu planejamento e eu crio um tipo completamente diferente de arte.

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CH – Sobre o que é a sua arte?

LA – Para mim, [a] arte é toda sobre emoções e é uma forma de nutrição da consciência e do espírito. Em cada pintura está toda uma vida presa, toda uma vida de medos, dúvidas, esperanças e alegrias. Assim, especialmente agora, durante a guerra furiosa, traduzir esses diferentes níveis emocionais e espirituais em seu trabalho é a vocação de um artista, e harmonizar o todo é tarefa de arte.

Eu gostaria de ser capaz de testemunhar no meu trabalho o que os diferentes seres humanos são obrigados a percorrer durante tempos de guerra. Estou feliz por minha arte tocar pessoas, como eu tento expressar tristeza humana sobre os rostos que eu pinto.

CH – Ser artista é um trabalho difícil. Você tem algumas dúvidas e grandes lutas/esforços?

LA – Nenhum artista nunca está completamente satisfeito com seu trabalho. [A] auto-dúvida é um pouco uma necessidade para um artista dar o melhor de seu talento e desenvolver suas habilidades. Meu trabalho nunca é tão bom como eu imaginei que seria. Eu sempre vou gostar de algumas obras mais do que outras, mas acho que evitar a auto-dúvida e luta é apenas uma miragem que iria me impedir de seguir em frente.

CH – Você alguma vez se arrependeu de ter se tornado artista? De onde sua energia vem?

LA – Eu nunca lamentarei ser um artista! A arte é vida para mim. Eu nem consigo me imaginar sem pinturas e cores ao meu redor. A energia criativa está aqui em mim constantemente, mas o entusiasmo e o grau de energia dependem de toda uma gama de influências internas e externas, como por exemplo, as minhas condições psicológicas e, por vezes, o tempo.

CH – O que te inspira?

LA – Os seres humanos e a sociedade são a minha inspiração. Qualquer emoção humana ou situações de vida pode ser uma fonte para a minha arte.

CH – Quanta satisfação você recebe em resposta ao seu trabalho?

LA – Eu me sinto satisfeita o suficiente com o meu trabalho, mas ainda desejo manter o foco e continuar progredindo.

A satisfação é uma recompensa, mas a perfeição é uma ilusão. Eu penso em cada obra que eu crio como um degrau em uma jornada muito mais longa. Eu nunca vou chegar ao próximo estágio de desenvolvimento como um artista, a menos que eu esteja disposta a deixar uma obra de arte de lado e passar para a próxima.

Em algum momento, eu tenho que deixá-la ir e seguir em frente. Eu tenho que aceitar o fato de que mesmo os maiores autores, compositores, músicos e artistas ainda estavam insatisfeitos com suas obras-primas de alguma forma.

CH – O conflito na Síria, que está acontecendo há alguns anos, teve um impacto sobre o elemento central da sua arte? O que mudou?

LA – Obviamente. Antes de ser uma artista, eu sou um ser humano. A maioria das minhas obras de arte foram criadas no meio da guerra. Se a minha arte está cheia de profunda tristeza, é porque expressa o sofrimento do meu povo.

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CH – Se você está vivendo fora da Síria, o lugar em que você está vivendo mudou sua arte?

LA – Atualmente, eu vivo na Alemanha. Obviamente, o ambiente e a sociedade, em que vivo agora, desempenham um papel importante no meu humor artístico.

Posso ver uma clara diferença no meu trabalho. Minhas pinturas na Síria tinham as marcas dos valores e tradições da família, já que na sociedade oriental a família é uma entidade muito predominante. Na Síria, estávamos acostumados a estar rodeados por muitas pessoas, o que às vezes era até mesmo difícil de lidar, e nos dava poucas chances de nos sentirmos independentes.

Enquanto na Alemanha há uma espécie de individualismo básico e independência que me inspirou na minha arte. Meu último trabalho é intitulado “Ícones Sírios”, mas paradoxalmente é inspirado pela independência dos europeus e seu modo de vida individual.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

LA – Minha esperança como ser humano é que a guerra chegue ao fim e as pessoas deixem de sofrer. Meu desejo como artista é ver minha arte alcançar o coração das pessoas em toda parte e ser reconhecida internacionalmente.

Meu sonho como síria é que a sociedade árabe entenda e aprecie a importância da arte em nosso mundo, que reconheça seu verdadeiro valor e comece a introduzir a educação artística como parte integrante do sistema educacional escolar.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 29 Lina Shadid

* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita no Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui.

Lina Shadid é uma pintora impressionista síria. Fascinada pela natureza e luz, a artista tenta capturar um senso de humor etéreo e espiritual em suas pinturas. Atualmente, ela vive em Nova York, EUA.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

Lina Shadid – Minha relação com meu estúdio é possivelmente a mais bela que já experimentei. Eu trabalho lá diariamente de dia ou de noite, com entusiasmo e com toda a minha alma. A sensação de escapar do mundo mundano [sic] onde estou livre de todas as minhas dores é indescritível. Com o início de cada nova história, deixo-me surpreender por onde me levará a jornada da criação, sem saber realmente em que direção tomará.

CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

LS – Enquanto trabalho no meu estúdio, meu humor varia entre ordem e desordem. Desordem é geralmente a atmosfera necessária para criar obras de arte originais, mas às vezes eu preciso organizar meu espaço, a fim de monitorar melhor os resultados. A coisa mais linda para mim é que meu estúdio é também o lugar onde eu moro. Assim que eu sinto o desejo de criar, desço para o porão da minha casa e começo a trabalhar. As coisas transbordam. Esta liberdade de criar é essencial para mim e, obviamente, a solidão é necessária desde o início até o fim. Algumas noites eu acabo ficando até o amanhecer sem obstáculos ao meu desejo de criação. Eu mesmo não sinto os efeitos do tempo passando.

CH – Você ouve música enquanto está trabalhando?

LS – Eu nunca posso começar a pintar sem ouvir a minha música favorita: música clássica em geral e, particularmente, Chopin e Tchaikovsky. Vibrar com a música leva minha mente para o reino da criação artística e eu, por sua vez, deixo meu pincel dançar através da tela. Às vezes eu escuto Oum Khalthoum, Abdel Halim Hafez ou Najat. Apesar de sua beleza, essas melodias árabes despertam tristeza em mim.

CH – Quais são suas práticas artísticas e seu processo de trabalho? Você planeja?

LS – É muito raro que eu esteja planejando uma pintura. Normalmente, eu simplesmente começo a pintar sem saber aonde vou chegar.

CH – Sobre o que é a sua arte?

LS – Minha arte é sobre a beleza da natureza e da luz, sob a forma de uma mulher ou uma mãe que espontaneamente e perpetuamente dá o seu amor. Gosto de humanizar a natureza e sua beleza que nem sempre somos capazes de ver. Em minhas pinturas estou tentando dizer palavras de amor e deixar a natureza contar sua própria história.

CH – Ser artista é um trabalho difícil. Você tem algumas dúvidas e grandes lutas/esforços?

LS – Isso era verdade no passado. Hoje eu sou capaz de superar essas lutas e dúvidas e continuar trabalhando. O único desejo que tenho é criar mais e mais.

CH – Você alguma vez se arrependeu de ter se tornado artista? De onde sua energia vem?

LS – Eu me sinto muito feliz com o que estou fazendo hoje em dia, embora nunca tenha planejado me tornar uma artista profissional no sentido materialista. Quando me sinto triste, minha atividade artística aumenta e eu vou mais rápido para terminar uma pintura. É como se eu estivesse acelerando a liberação das emoções.

Cada vez que eu vejo uma foto do meu pai ouço o sussurro vindo de longe: “Eu lhe disse uma vez que você se tornaria uma artista, certo?” Meu pai é a razão de por que estou criando, sua crença em mim e seu encorajamento são a minha principal motivação e, em seguida, vem o meu amor à natureza e à luz, que eu estou feliz em traduzir em minhas obras de arte. Minha maior felicidade vem das pessoas que amam meu trabalho e querem tê-lo.

A palavra “artista” tem sido o meu sonho desde a minha infância, e agora estou me perguntando: Eu sou uma artista? Eu sei que eu tenho que me tornar mais e mais (também para provar para mim mais e mais).

CH – Quanta satisfação você recebe em resposta ao seu trabalho?

LS – Eu estou constantemente me esforçando para fazer melhor, mas a minha satisfação sobre o meu trabalho está se tornando mais profunda dia após dia.

CH – O conflito na Síria, que está acontecendo há alguns anos, teve um impacto sobre o elemento central da sua arte? O que mudou?

LS – A Síria é a maior dor e a mais profunda tristeza do meu coração. Na arte, há uma grande diferença de percepção entre as culturas. Os artistas são mais valorizados na cultura ocidental, e desde que cheguei aos EUA eu poderia ir mais longe com meu trabalho e ver mais valor na minha criação.

CH – Se você está vivendo fora da Síria, o lugar em que você está vivendo mudou sua arte?

LS – Apesar da distância da minha pátria, minha presença aqui na América, onde eu estou vivendo, aumentou minha fé em minha arte.

CH – O que te inspira?

LS – Natureza, luz e amor me inspiram.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

LS – Espero ter exposições em todos os Estados Unidos e em muitos outros países, e eu sonho em ter minha própria galeria onde eu possa mostrar a criatividade de artistas sírios e outros artistas de todo o mundo. Enquanto isso, o meu maior sonho é ver a paz voltando ao meu adorado país Síria.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 28 Eman Nawaya

* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita no Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui.

Eman Nawaya é uma artista visual com Licenciatura em Belas Artes. Nascida na Arábia Saudita, ela é uma cidadã síria e atualmente reside no Líbano.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

Eman Nawaya – Meu estúdio é o lugar para minha renovação diária, minhas atividades intelectuais e artísticas. Cada novo dia passado dentro do meu estúdio é como um sentimento pulsante de verdadeira vida; dentro dele eu posso viver todas as estações de uma vez.

CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

EN – Na verdade, é um tipo de mistura entre organização, que me dá a possibilidade de refletir e meditar, e desordem que cria em mim entusiasmo e energia. A distância do estúdio não me afeta; minha arte está ligada a este lugar, onde passo a maior parte do meu tempo e que desempenha o primeiro papel no teatro dos meus sentimentos.

CH – Você ouve música em seu estúdio? Você trabalha melhor com alguma música tocando ou necessita de silêncio completo quando está em seu ápice criativo?

EN – Adoro ouvir música enquanto estou pintando, pensando ou meditando. Acho que a música abre outra dimensão de vibrações psicológicas.

CH – Quais são suas práticas artísticas e seu processo de trabalho? Você planeja?

EN – Acredito que meu trabalho explora a expressividade e o processamento emocional, e também a liberação de minhas mãos e meus próprios sentimentos, deixando-os ir tão longe quanto eles estão dispostos a ir, até que a pintura tenha desenhado seu último suspiro.

CH – Sobre o que é a sua arte?

EN – Minha arte é sobre a essência original da criação da Mulher e do Homem no Universo.

CH – O que te inspira?

EN – A sociedade me inspira. Para mim, é uma fonte inesgotável de inspiração permanente.

CH – Ser artista é um trabalho difícil. Você tem algumas dúvidas e grandes lutas/esforços?

EN – Claro que às vezes um artista pode atravessar um período ruim cheio de pessimismo e dúvidas, mas o ímpeto criativo é mais forte do que as circunstâncias e maior do que o pessimismo; e, finalmente, a dúvida é um estado de espírito necessário para manter a alma se esforçando para a criação e evolução.

CH – Você alguma vez se arrependeu de ter se tornado artista? De onde sua energia vem?

EN – Eu nunca me senti assim, mas às vezes eu penso: E se eu não tivesse me tornado uma artista? O que eu faria então? No entanto, não há outra resposta senão: artista. A sociedade com todas as suas variações e complexidades é uma fonte diária de criação e ideias.

CH – Quanta satisfação você recebe em resposta ao seu trabalho?

EN – Cada dia em que sou capaz de criar um novo trabalho artístico é um dia abençoado, cheio de otimismo, e então a imaginação dá o próximo passo para projetos atuais e futuros.

CH – O conflito na Síria, que está acontecendo há alguns anos, teve um impacto sobre o elemento central da sua arte? O que mudou?

EN – Inevitavelmente as guerras afetam as pessoas, especialmente os artistas, seus processos de trabalho e sua arte em geral. O fluxo contínuo de eventos inspira a criação de modo a refletir as profundas mudanças cotidianas na sociedade síria.

CH – Se você está vivendo fora da Síria, o lugar em que você está vivendo mudou sua arte?

EN – A integração em um novo país que você escolhe determina toda uma gama de influências. Estar fora da Síria afetou minhas ideias e abriu minha mente sobre a importância do que um artista pode oferecer à sociedade de seu país de origem e ao de seu país transitório, e também sobre a associação entre a obra de arte e o artista.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

EN – Eu sou uma artista síria, mas os sonhos e esperanças que tenho são os mesmos para mim, tanto como artista, tanto como um indivíduo sírio. Espero voltar em breve ao meu ateliê em Damasco, voltar a viver entre as canções dos pássaros e a voz de Fairouz, ouvir de novo os belos ruídos das ruas damascenas. Espero que minhas mãos continuem trabalhando e criando até exalar meu último suspiro.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 27 Valia Abou Alfadel

* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita no Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui.

Valia Abou Alfadel é uma artista visual com formação em Belas Artes. Nascida em Damasco (Síria), ela atualmente reside em Dubai, Emirados Árabes Unidos.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

Valia Abou Alfadel – Cada pessoa tem uma mensagem e uma razão para estar neste mundo. Minha mensagem é Amor, uma espécie de missiva enviada à Humanidade. E para escrever uma palavra ou uma linha nesta missiva, tenho que estar em um lugar inspirador onde eu possa juntar todas as minhas memórias e esperanças … e este lugar é o meu estúdio.

O estúdio me ajuda a liberar minhas cores como para expressar muitas emoções, é meu próprio mundo especial onde minha alma descansa e encontra uma bela maneira de revelar meu verdadeiro eu.

Obviamente, minha presença em qualquer lugar expressando a beleza da Arte, como uma galeria ou estúdio de outro artista, pode me inspirar também, e me oferece sentimentos positivos e emoções.

CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

VA – No meu estúdio há uma espécie de desordem organizada; geralmente estou organizada, mas quando começo a desenhar não me posso preocupar mais em cuidar da organização: adoro ver os meus lápis totalmente livres.

Meu estúdio atual é uma parte de minha casa particular. Eu tentei criá-lo perto de minha família, não só para mim, mas também para os membros da minha família, para ter um lugar para a contemplação e evasão. A maioria dos meus filhos e também o pai deles são artistas também, aqui estou entre eles, e enquanto isso eu posso reintegrar meu próprio mundo a qualquer hora que eu quiser.

CH – Você ouve música em seu estúdio? Você trabalha melhor com alguma música tocando ou necessita de silêncio completo quando está em seu ápice criativo?

VA – A música é uma parte de meus materiais, como meus lápis e as cores. Cada pintura obtém uma história musical que depende do tempo e meu estado de espírito quando a obra de arte foi realizada. A música é a minha companheira e a mensageira das minhas emoções para as minhas pinturas.

CH – Sobre o que é a sua arte?

VA – Como eu disse antes, o amor é a minha mensagem. Amor como um valor básico e instinto do ser humano antes da poluição das sociedades. É a verdadeira beleza e a prova da existência da vida. Quem pode parar na frente de uma de minhas pinturas pode sentir meu amor, e isto é o que minha mensagem é toda sobre.

CH – Ser artista é um trabalho difícil. Você tem algumas dúvidas e grandes lutas/esforços?

VA – Tenho muita sorte de que Deus me deu esse talento e esta capacidade de pintura que me leva a um estado de espírito calmo e pacífico.

CH – O que te inspira?

VA – Talvez essa tristeza profunda que aparece nos detalhes dos heróis da minha pintura. Eu não odeio essa tristeza; eu até gosto, porque qualquer expressão deve sair de uma ferida interna real para ser a base da criação.

CH – Você alguma vez se arrependeu de ter se tornado artista? De onde sua energia vem?

VA – Eu acho que um artista é mais sensível e influenciável do que as outras pessoas, embora essa qualidade possa conter uma dificuldade na vida cotidiana. Todas as circunstâncias empurram um artista para expressar suas emoções. Cada artista tem diferentes fontes de inspiração e criação, o meu é uma tristeza profunda, e no entanto estou feliz em expressá-lo na minha arte.

CH – Quanta satisfação você recebe em resposta ao seu trabalho?

VA – Nunca vejo um limite à minha ambição. Sinto-me sempre cheia de novas ideias e novos sentimentos para oferecer através da arte.

CH – O conflito na Síria, que está acontecendo há alguns anos, teve um impacto sobre o elemento central da sua arte? O que mudou?

VA – Síria, minha pátria e meu grande amor está vivendo questões tão dolorosas, e eu tento compartilhar essa dor, que também impacta involuntariamente minhas cores. Minhas últimas obras são chamadas “Damasco” e “Aleppo” e estão entre minhas melhores obras de arte, e entre as mais próximas à minha alma.

CH – Você está vivendo fora da Síria. Como o lugar onde você está vivendo mudou sua arte?

VA – Eu estou vivendo nos Emirados Árabes Unidos, é o meu segundo país, que é um belo [país] me dando energia para trabalhar e me tornar distinta. Mas a Síria continua a ser o lugar mais bonito na terra com a sua natureza maravilhosa. Um artista tem essa grande capacidade de integrar qualquer lugar que ele queira porque a criação é seu primeiro alvo.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

VA – Não há limites para os meus sonhos. Espero que minha arte seja compreendida e que toque mais pessoas para atrair felicidade para suas almas. Espero que minha mensagem de Beleza e Amor seja liberada. O amor é emoção, nostalgia, cor, movimento… é uma purificação espiritual e uma razão para estar vivo, e a única maneira de fazer deste mundo um lugar melhor.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 26 Yara Said

Yara Said. Foto: Khaled Youssef.

* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita por Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui.

Yara Said, uma jovem talentosa artista, que se formou na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Damasco. Atualmente reside na Holanda, como assistente social voluntária (expressão através da arte) da organização TESC, e também é voluntária de uma startup de cuidado aos refugiados. Nascida em Al-Suwaida, Síria, ela vive e trabalha em Amsterdã.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

Yara Said – Meu estúdio é minha casa. É o único lugar na terra onde me sinto real e produtivo, o único lugar onde posso ser cem por cento genuína. É um lugar onde posso me reunir com amigos e ter novas experiências. Um monge tem um templo, um artista um estúdio.

Foto: Khaled Youssef.

CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

YS – Eu gosto que meu estúdio esteja pronto para o trabalho a qualquer momento. Ordem para mim significa apenas que eu seja capaz de encontrar minhas ferramentas facilmente! O caos criativo sempre foi minha coisa favorita na vida. Para mim é uma coisa muito importante ter o meu estúdio perto da minha casa. Eu acho que é o sonho de um artista ter acesso 24/7 ao estúdio e ser capaz de mergulhar no processo criativo sem restrições. E é isso que estou tentando fazer aqui agora.

CH – Você ouve música em seu estúdio? Você trabalha melhor com alguma música tocando ou necessita de silêncio completo quando está em seu ápice criativo?

YS – Música é minha vida. Nietzsche disse: “Sem música, a vida seria um erro”. Quando eu preciso me impulsionar, eu escuto música alta. Quando eu quero rememorar coisas sobre minha terra natal, um café da manhã escutando Fayrouz nunca deixa de trazer velhas boas lembranças piscando em minha mente. Se os seres humanos alguma vez fizeram descobertas valiosas e poderosas, então foi a música.

Foto: Khaled Youssef.

CH – Quais são suas práticas artísticas e seu processo de trabalho? Você planeja?

YS – Oh não, eu nunca planejo! Eu apenas vivo e vivo! E então, quando eu estou cheia de todas as emoções, de todas as coisas que ouvimos e vemos na TV, quando me sinto mais desesperada e não posso fazer nada para mudar o mundo, eu pinto usando jornais e materiais antigos.

Eu costumava escolher cores de tinta do jeito que eu escolhia minhas roupas. Hoje estou usando vermelho sexy ou azul frio, talvez branco liso. Neste caso, o que você vê é “exatamente” o que você obtém. Minhas impressões são eu.

CH – Sobre o que é a sua arte?

YS – Quero que [minha arte] não se manifeste; quero que [ela faça] as pessoas se manifestarem. Quero que mova as pessoas e as sacuda inconscientemente e conscientemente. Se houvesse algo que minha arte expressaria, então seria a natureza humana (minhas experiências são as mesmas que as suas). Acabei de encontrar minha própria linguagem.

Foto: Khaled Youssef.

CH – O que te inspira?

YS – Muitas pessoas incríveis. Meu número um por agora seria Mark Rothko. Então Antoni Tàpies, Jean-Michel Basquiat, Francis Bacon, Yves Klein, Picasso, Monet, Gerhard Richter, Carl Jung, Sigmund Freud, Milan Kundera, Franz Kafka, Radiohead, Janis Joplin… Inspiração está em toda parte!

CH – O conflito na Síria, que está acontecendo há alguns anos, teve um impacto sobre o elemento central da sua arte? O que mudou?

YS – Eu não posso realmente saber sobre isso, já que minha experiência artística floresceu no meio da guerra. Pergunto-me quão diferente minhas experiências teriam sido se a guerra não tivesse acontecido, como eu teria me tornado [uma pessoa] diferente.

Foto: Khaled Youssef.

CH – Se você está vivendo fora da Síria, o lugar em que você está vivendo mudou sua arte?

YS – Absolutamente, eu acho que cada lugar deixará suas impressões. Cada nova cidade é uma nova experiência. Amsterdã, por exemplo, me fez realmente consciente da crise global do capitalismo ocidental e europeu. Na Síria a minha única preocupação era sobre questões de vida diária, e nos últimos 5 anos sobre como evitar mísseis. No entanto, Amsterdã tem o seu próprio encanto. Eu não posso esperar para visitar novos países e ver as melhorias e mudanças que terá no meu trabalho.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

YS – Como artista o meu único desejo é me tornar uma artista em tempo integral; parece muito simples, mas precisa de muito trabalho duro e concentração. Como artista síria, quero contar a minha história, a história do meu país, as histórias dos meus amigos de forma esclarecida ao mundo inteiro.

Talvez então os povos do mundo poderiam sentir o horrível do que está acontecendo na Síria agora e o impacto deletério que tem na vida das pessoas. Talvez então o mundo compreenderia como seres humanos desumanos realmente são, e quão pernicioso e perigoso é o ambiente digital de mídia social e realidade virtual em que vivemos atualmente.

Foto: Khaled Youssef.

 


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 25 Diana Al-Hadid

Nascida em 1981, Diana Al-Hadid é uma artista síria baseada em Brooklyn, EUA. Misturando referências socioculturais de seu plano de fundo ocidental e oriental, ela explora seu fascínio com os pintores renascentistas e os aspectos formativos de sua prática.

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Synonym (Foto: Isabel Asha Penzlien)

Hadid usa polímero, ceras, fibra de vidro, aço, gesso e outros materiais industriais para criar esculturas e instalações que aparecem em ruínas ou em processo de dissolução. Um grande número de seus trabalhos centram-se em torno da imagem, forma e conceito de torre e suas várias associações: poder, riqueza, desenvolvimento tecnológico e urbano, ideias de progresso e globalismo.

Nolli’s Orders (Foto: Dennis Harvey)

Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 24 Noor Bahjat

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* Este artigo é uma tradução livre da publicação feita pelo Creative Havens: Syrian Artists and Their Studios. Para acessar a publicação original, em inglês, clique aqui.

Noor Bahjat Almassri, graduou-se no topo de sua turma da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Damasco. Primeira artista jovem em residência na Galeria Ayyam. Nascida na capital da Síria, vive e trabalha em Dubai, Emirados Árabes Unidos.

Creative Havens – Qual é a sua relação com o seu estúdio? O que ele representa para você? Como você se sente quando está lá?

Noor Bahjat – O estúdio é o lugar onde eu posso me isolar e tomar distância de tudo, exceto de mim. É um espaço no qual posso confessar muitos dos meus sentimentos e me libertar da turbulência emocional – e também onde meu coração pode desejar algo mais profundo do que minhas experiências diárias.

Trabalhar no meu estúdio é uma maneira de expressar os impactos do que está acontecendo ao meu redor e do que me afeta – e dentro desse microcosmo para transcrever minha experiência de vida em uma perspectiva única, em linhas e cores.

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CH – O layout, a organização e a localização do seu estúdio têm influência na criação das suas obras? Que papel esse espaço, tempo e solidão têm em seu trabalho?

NB – Para ser honesta, eu não sou muito organizada, e às vezes eu quase me perco no estúdio. Mas quando a desordem se torna demasiadamente esmagadora, eu trago a ordem e, de tempos em tempos, até encontro algumas obras antigas ou ferramentas que eu tinha perdido, e então é como uma chance de começar de novo, de fortalecer e reestruturar minhas idéias para algumas obras de arte futuras.

As ideias e a maneira de ver a vida mudam à medida que o tempo passa, mas mudar de lugar de trabalho, por exemplo, obviamente tem uma grande influência tanto nas ideias como na qualidade do trabalho. Quando o estúdio de um artista é transferido para outro local, a atmosfera e as instalações mudam, e assim também, direta ou indiretamente, o processo artístico e produtividade, bem como os resultados.

CH – Você ouve música em seu estúdio? Você trabalha melhor com alguma música tocando ou necessita de silêncio completo quando está em seu ápice criativo?

NB – A música é essencial para mim. Eu sempre ouço música enquanto trabalho. A música é importante para a minha rotina diária e fluxo, porque me ajuda a ritmar meu trabalho e me manter focada. O que aconteceu ao longo do tempo é que, com a música certa, posso literalmente transportar-me para um lugar de alta emotividade e criatividade toda vez – tudo o que preciso é a música para me levar a esse lugar literal no centro das minhas pinturas e as coisas começam a disparar em criação.

A música move minha alma e está enraizada no princípio do trabalho e do prazer – quando os dois são combinados crio algo totalmente diferente. A música permite que essa dinâmica ocorra e é por isso que a uso, com abandono, no meu ciclo de trabalho e criatividade. O único momento em que há silêncio em meu estúdio é quando a música pára de tocar e eu não prestei atenção, porque voltada para dentro e concentrada em meu trabalho.

CH – Quais são suas práticas artísticas e seu processo de trabalho? Você planeja?

NB – O processo é bastante simples: coloco a tela diante de mim e a deixo me transportar para dentro dela, me entrego a ela e aguardo até que me leve aonde quiser. Geralmente, começo desenhando alguns retratos, e depois retiro algumas figuras e acrescento outras. Continuo assim até chegar a um estágio onde a pintura se comunica o suficiente comigo e expressa meus sentimentos. Eu tento ficar satisfeita no final olhando para as obras de arte como um espectador faria em uma exposição, um espectador que pára e olha profundamente em uma pintura expressiva.

CH – Sobre o que é a sua arte?

NB – Minha arte expressa o que ocupa minha mente e alimenta minha alma – como qualquer outro artista que tenta expressar suas emoções através de uma mídia que ele ama.

Cada pessoa tem sua própria maneira subjetiva de se aproximar e apreciar uma obra de arte ou uma pintura, e essa é a coisa mágica sobre a arte: enquanto o processo criativo pertence ao artista, emoções e reações pertencem ao espectador.

Nunca dou um título às minhas pinturas, pois não quero limitar outras ou colocar limites – a minha arte pretende dar espaço à imaginação e emoções livres dependendo da experiência de vida de cada um. Além disso, acho difícil e restritivo dar nomes a emoções, sonhos e experiências que posso expressar através de minhas pinturas.

CH – O que te inspira?

NB – Qualquer coisa bonita nesta vida que possa iluminar a inspiração em mim, qualquer coisa de substância, e qualquer coisa que provoque a reflexão: uma visão, uma foto ou mesmo uma conversa …

CH – Quanta satisfação você recebe em resposta ao seu trabalho?

NB – A satisfação é uma questão muito relativa; ela muda de acordo com o trabalho e o período de tempo. Há muitas das minhas pinturas que eu realmente amo e que me dão uma sensação de plena satisfação, enquanto isso há algumas outras para as quais ainda tenho algumas dúvidas.

Naturalmente, enquanto uma obra de arte recente explica mais sobre o meu “eu” atual, uma vez que contém a minha marca presente e um pedaço da minha vida no fundo, algumas das minhas obras mais antigas parecem ser menos satisfatório para mim hoje em dia. Isso pode provar a minha evolução pessoal e artística. No final cada obra recebe uma personalidade distinta e enfatiza a expressão artística humana dentro de um período específico de tempo e experiência de vida.

CH – Se você está vivendo fora da Síria, o lugar em que você está vivendo mudou sua arte?

NB – Obviamente, o lugar onde um artista vive tem uma grande influência no seu trabalho e em múltiplos níveis: a atmosfera, o ambiente, as pessoas e a vida cotidiana – todos estes fatores contribuem para a evolução da personalidade de um artista e o processo criativo.

Minha presença em Dubai mudou minha maneira de ver a arte em geral e mais especificamente o meu próprio trabalho. Tive a oportunidade de encontrar muitos grandes artistas sírios e internacionais, e isso participou sem dúvida da minha evolução como jovem artista. Intrinsecamente, cada sociedade pode ser capaz de construir algumas fronteiras e muros, e libertar-se de outras sociedades, mas o caráter cultural específico de cada país influencia a experiência pessoal do artista e, portanto, seu impulso artístico.

CH – Quais são as suas esperanças e sonhos para si mesmo como artista e, especialmente, como uma artista síria?

NB – Meu sonho é ser capaz de expressar minhas ideias e meus sentimentos de forma acadêmica e artística, tornando mais fácil tocar os outros e liberar emoções vibrantes.

Como uma artista síria, meu sonho é que o resto do mundo abra seus olhos e considere o povo sírio de uma maneira diferente – não como um povo sofrendo e disperso pela guerra, mas que veja os sírios como eles realmente são: educados e criativos, capazes de ser bem sucedidos em todos os campos e em qualquer lugar.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 23 Diana El Jeiroudi

Diana El Jeiroudi.

Diana El Jeiroudi é uma cineasta independente, documentarista, artista e produtora síria. Ela é bacharel em Literatura Inglesa pela Universidade de Damasco e trabalhou em Marketing & Comunicação até 2002.

Ela co-fundou a única produtora independente de filmes na Síria até hoje, a ProAction Film, para a produção de documentários. Ela também é co-fundadora do Festival Internacional de Documentários do DOX BOX na Síria, que atua em colaboração com o Festival Internacional de Documentários de Amsterdã e a European Documentary Network.

El Jeiroudi ganhou destaque internacional com seu curta-metragem The Pot (2005), que explora as questões relacionadas à gravidez e a reexamina como um fenômeno social. A artista tenta ilustrar como a identidade feminina na região árabe gira em torno de dar à luz.

Em seu primeiro longa-metragem Dolls – Uma mulher de Damasco (2007-2008), El Jeiroudi explora o fenômeno da Boneca Fulla, que representava o sonho de cada menina árabe e era a versão com véu da boneca Barbie. Paralelamente, constrói-se a figura maternal de Manal, uma jovem mãe e esposa síria que vive em um ambiente social tradicional com regras conservadoras para as mulheres.

El Jeiroudi tenta revelar uma tendência que utiliza a apropriação comercial de um modelo feminino para limitar a liberdade e controlar a mente de uma geração jovem para aceitar um conjunto de regras religiosas e socialmente aprovadas.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).

Série Mulheres Árabes | # 22 Yasmine Hamdan

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Yasmine Hamdan.

Yasmine Hamdan é uma cantora, compositora e atriz libanesa. Baseada em Paris, ela se tornou conhecida por conta da dupla Soapkills, que ela fundou com Zeid Hamdan (sem parentesco), enquanto ainda vivia no Líbano.

Soapkills foi uma das primeiras bandas eletrônicas independentes no Oriente Médio, e sua abordagem inovadora exerceu uma influência duradoura. Até hoje Yasmine Hamdan é considerada um ícone da música underground em todo o mundo árabe.

Em 2013, Hamdan lançou seu álbum solo Ya Nass. Ela já realizou shows em quatro continentes, incluindo uma série de apresentações para o lançamento do filme Only Lovers Left Alive, de Jim Jarmusch.

Embora seus vocais estejam definitivamente conectados às tradições da música árabe, as estruturas e arranjos das canções incorporam elementos da música eletrônica, pop e folclórica ocidental contemporânea.


Este artigo faz parte da Série Mulheres Árabes, publicações diárias durante o mês de março, com o intuito de contribuir com a visibilidade das diferentes narrativas protagonizadas por mulheres árabes. O projeto é de autoria de Camila Ayouch, colunista do Regra dos Terços e estudante de Letras Português-Árabe na Universidade de São Paulo (USP).