Erika de Faria é uma fotógrafa paulistana dotada de uma enorme sensibilidade estética. Confira a entrevista abaixo!
Camila Ayouch – Por que fotografia?
Erika de Faria – A fotografia para mim é só mais uma linguagem possível. Ela veio como mais uma forma de me expressar por meio das imagens, luz, cores, locações etc.
CA– Como você começou na fotografia?
EF – Letras foi minha formação. Meu sonho na adolescência era ser escritora, era mostrar para o mundo todas minhas transformações, dúvidas, desesperos e paixões. Queria ser Ana Cristina, Clarice Lispector ou Hilda Hilst. Mas como em qualquer boa faculdade, [isso] matou minha criatividade para sempre.
Travei, não escrevia mais, achava tudo sem sentido e que eu não tinha talento para nada, apesar de ter muita coisa para expressar. Juntei dinheiro trabalhando como vendedora na época, para viver um tempo na Espanha, para ver se alguma luz surgia. Lá descobri a fotografia, fotografando viagens, mas de forma diferente, eu contava a história das ruas, conseguia inventar personalidade para os personagens das imagens e isso foi inspirador e voltei renovada para o Brasil.
Após um tempo decidi largar tudo e fotografar como profissão. Hoje fotografo moda, retrato e publicidade e além disso ministro workshops e cursos. Como sempre gostei e estudei várias formas de arte, essa bagagem toda me acompanha sempre na fotografia. Gosto de me inspirar no cinema, nas músicas da Gal Costa, Caetano e Milton Nascimento.
CA – Qual é seu estilo de fotografia?
EF – É difícil definir um estilo, mas acho que minhas imagens são banhadas de sol, sentimentos, brasilidade e delicadeza. É assim que enxergo a vida e é assim que me exponho por meio do meu trabalho. Claro que nos trabalhos comerciais nem sempre consigo colocar o que amo, mas acredito que sempre existem elementos meus ali, por mais que se tenha um briefing perfeito.
CA – Quais são suas referências na fotografia?
EF – Minhas referências na fotografia sempre foram as mesmas, desde o início. A primeira é a fotógrafa Lina Sheynius, que fotografa a intimidade dela e consegue fotografar moda da mesma forma, que é encantadora. Amo o Ryan Mcginley, que sempre teve um trabalho autoral e depois de ficar muito famoso, começou a ser convidado para fotografar publicidade de forma extremamente artística e inspiradora. E um fotógrafo brasileiro que é muito incrível na moda e que admiro muito, é o Zee Nunes. Além de fotógrafos, me inspiro muito em pintores como Schiele e Balthus, amo a delicadeza e o erotismo de suas pinturas.
CA – Quais os desafios de ser uma fotógrafa mulher?
EF – Os desafios de ser mulher no universo da fotografia são inúmeros. Acho que os principais são o machismo e a insegurança que nos colocam nesse universo. Acredito que por sempre ter sido um mercado extremamente masculino, a presença das mulheres incomoda, sempre acham que a mulher não vai dar conta, que não sabe coordenar uma equipe, acham que nos imprevistos a mulher vai surtar ou chorar ou que a mulher não deve saber tanto de técnica como outros fotógrafos homens, já escutei muitas vezes esses tipos de comentários, tantos em trabalhos como em cursos de cinema e fotografia.
Já presenciei professores falando isso em aula sobre o porquê não gosta de trabalhar com mulheres, imagina só a minha cara ao ouvir esse tipo de comentário. Acho que a importância da atuação feminina na fotografia é essencial.
Nós mulheres precisamos ocupar os espaços, precisamos ter destaque em todas as profissões, mas acredito que especialmente na fotografia – que além de ser a minha área, é uma área machista -, que sempre duvidou de nós mulheres e precisamos mostrar o quanto somos capazes, talentosas, que nosso olhar é sensível, principalmente quando falamos em retratar outras mulheres, já que a mulher sempre foi retratada por homens, por olhares machistas, sexualizando os corpos e a imagem do feminino, não estou radicalizando, óbvio, mas temos uma quantidade enorme disso.
Por conta do mercado, as mulheres se sentem acuadas e com muita insegurança no mercado, por isso precisamos nos unir, chamar outras manas para trabalhar, apoiar e compartilhar conhecimento com outras manas, já que conhecimento é sinônimo de empoderamento também. A fotografia é imagem, a imagem emociona, e também pode ser informativa, representativa, inspiradora e também triste, má e segregadora. Por isso, nós profissionais da imagem temos a obrigação de passar o nosso melhor para essas imagens.
Nós fotógrafas mulheres temos que ao menos tentar quebrar essas barreiras, tanto da profissão como das imagens machistas que sempre fizeram da mulher. Temos que tratar a imagem da mulher com carinho e com dignidade. A imagem também muda o mundo, ela inspira pessoas, ela também pode iluminar e trazer sentido à vida de outras pessoas.
CA – Qual equipamento você usa para fotografar?
EF – A câmera que uso é a Canon 6D com a lente 24-105mm; para trabalhos pessoais uso a FujiFilm. Quando preciso de outras lentes eu alugo e flashs também sempre alugo Profoto.
CA – Você já teve alguma publicação de destaque ou recebeu algum prêmio?
EF – Já tive publicações na capa e ensaios na Revista TRIP, tive capa e editoriais de moda na Revista Pais e Filhos, na cia aérea Easy Jet.
Ficou a fim de conhecer mais o trabalho da Erika de Faria? Dá uma olhada nos links abaixo.
Portfólio: www.erikadefaria.com
Instagram: @erikadefariaa
Tumblr: http://erikavisualdiary.tumblr.com
Facebook Page: https://www.facebook.com/erika.defaria
Freak Market: https://freakmarket.com.br/curador/erika-e-leandro
Podcast para o Papo de Fotógrafo: http://www.papodefotografo.com.br/2016/12/feminino-moda-publicidade/